quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Festa do congado em Uberlândia chega aos 135 anos


A festa do congado em Uberlândia, realizada todo segundo domingo de outubro, chegou aos 135 anos. A tradição secular mostra a força da cultura afro-brasileira que até hoje luta para ter espaço na sociedade e faz disso uma linda manifestação popular.
Eles são tão pequenos, mas com uma identidade cultural enorme. Aprendem com os mais velhos a respeitar a tradição religiosa. O congado é uma das mais importantes manifestações culturais e religiosas de Minas Gerais. Em Uberlândia a festa tem 135 anos. É também uma manifestação de resistência do negro presente na sociedade e que tem Nossa Senhora do Rosário como santa protetora.
A resistência faz com que o congado ganhe mais força. Com cada vez mais crianças envolvidas o congado hoje é um dos maiores orgulhos de Minas. O congado surgiu porque os negros não podiam entrar nas igrejas e essa foi a forma que eles encontraram para cultuar os santos protetores. Não faz muito tempo, em algumas ruas, eram separados pela cor.
“Desde a década de 40 o espaço era considerado de exclusão. Na Afonso Pena, por exemplo, negro só podia andar de um lado da avenida e os grupos de congado em alguns lugares eram impedidos de transitar”, conta o comandante geral do Congado em Uberlândia, Jeremias Brasilino. “Uma verdadeira raiz bem plantada ela nunca morre. Nós estamos adquirindo mais e mais respeito. Não somos apenas um bando de negros batedor de tambor. Somos devotos de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito com amor, fé e carinho”, diz a capitã do Congado, Cristiane Oliveira.

A festa só cresce. No ano passado, pela primeira vez, o público teve uma arquibancada para assistir ao desfile. Esse ano já são duas e muita gente ficou em pé. Há dez anos, Uberlândia tinha 12 grupos de congado, hoje, são 25. Nesta segunda-feira (10), às 18h, tem a apresentação de todos dos grupos de Congado em frente à igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
FONTE: http://megaminas.globo.com/2011/10/10/festa-do-congado-em-uberlandia-chega-aos-135-anos

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A história da Igreja do Rosário situada na Penha, São Paulo


Situada no Largo do Rosário, esta primitiva igreja de telhas toscas e taipas de barro, nasceu de petição que, aos 16 de junho de 1802, a Irmandade dos Pretos da Freguesia da Penha de França dirigiu ao Bispo de São Paulo, suplicando autorização episcopal para a construção de uma capela que, realmente, foi edificada posteriormente sob a direção do Vigário colado Antônio Benedito de Camargo.
Guarda, em alguns detalhes muito antigos, como a porta principal, os retábulos internos, etc.
O documento que referimos figura nos “Autos de Ereção e Patrimônio de Capelas” (Livro 1-1-3 dos Arquivos da Cúria Metropolitana).
Segundo a tradição popular, foi construída por escravos e servia a exercícios religiosos praticados por homens de cor.
Num ligeiro retrocesso, focalizaremos a primeira Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
O dinheiro necessário foi arrecadado por ele durante cinco anos, que esmolou pelo Reino.
Por Lei da Câmara Municipal de 16 de setembro de 1903, foram declaradas de utilidade pública, para o fim de desapropriação, os terrenos e prédios necessários à ampliação do Largo do Rosário, pertencentes à Irmandade.
Pelo acordo feito entre a Prefeitura e  a Irmandade, a Municipalidade adquiriu, para a Câmara, o edifício da Igreja e as outras dependências, pagando a indenização de duzentos e cinqüenta mil cruzeiros e doando uma pequena área de terreno no Largo do  Paissandu, para a construção de uma outra.
Enquanto não se concluíam as obras do novo templo, a Irmandade instalou-se provisoriamente, com todos os pertences, na Igreja de São Pedro da pedra, que ficava no Largo da Sé, onde hoje se localiza a Caixa Econômica Federal.
A pedra fundamental da nova Igreja foi lançada a 24 de julho de 1904.
A trasladação das imagens e a inauguração do novo Templo ocorreram nos dias 21 e 22 de abril de 1906.
A festa marcou época, culminando com a triunfal procissão que partiu da Igreja de São Pedro da Pedra em direção ao Paissandu, passando pelas ruas centrais, engalanadas. A banda de música do maestro Carlos Cruz acompanhou o cortejo.
Todavia, a Irmandade dos Homens Pretos , que administrava a Igreja, foi criada a 2 de janeiro de 1711, quando governava São Paulo o capitão-general D.Antônio de Albuquerque Coelho Carvalho.
O atual juiz provedor é Inácio Braga, que está no cargo há trinta anos. O capelão é o Padre Mateus Nogueira Garcez.
Nos baixos da Igreja, funciona uma Escola Primária, gratuita, mantida pelo SESI, em salão da Irmandade.
A entidade está atualmente construindo um hospital na Vila Maria.
A Igreja  é de estilo colonial e nunca passou  por restauração na sua estrutura externa. conserva muito do antigo templo da Praça Antônio Prado, inclusive a Imagem da Padroeira – Nossa Senhora do Rosário no altar-mor.
Por sua vez, na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos  Guarulhos, consta ter existido  uma Capela de Nossa Senhora do Rosário, na atual Praça Conselheiro Crispiniano e que foi demolida em 1930 e reedificada na atual Praça do Rosário. pertence à antiga Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Segundo o Relatório do Padre Celestino Gomes d’Oliveira Figueiredo, datado de 1913, essa Capela foi construída em 1863. Mas  conforme uma diligência datada de 18 de agosto de 1806, por ordem do Senado da Câmara de São Paulo, cumprida pelo presidente da Câmara, vereador Capitão José Maria da Cruz Almada e pelo procurador José Jacinto Bernardes, determinando a Ignácio de Miranda e a seu pai Manuel de Miranda, a se desapossarem de terras que, sem título, haviam cercado, junto às casas em que moravam, “ao pé da Igreja do Rosário dos Pretos”, a sua existência deve ter sido  anterior àquela data.
A nosso ver, três seriam as igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em São Paulo. Todas elas foram construídas por escravos e datam do período colonial. A primeira, indiscutivelmente, seria a do Largo Paissandu.
Ficamos na dúvida, se a segunda seria a de Guarulhos ou a da Penha. Ambas são da mesma época, início do século passado. Contudo, seguindo a tradição popular, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Freguesia de Nossa Senhora da Penha de França é a segunda Igreja dessa Irmandade.
Todavia, hoje ela é apenas conhecida pelo nome de Igreja dos Milagres. Transformou-se, mesmo, numa espécie de sucursal da Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, porque vem recolhendo os ex-votos dos fiéis de Nossa Senhora.
É o repositório dos agradecimentos ou o atestado comovedor e sincero de milhares de criaturas agraciadas com as mercês da Virgem Maria.
Os visitantes mais incrédulos talvez alterem até os sentimentos, deparando centenas de fotografias autografadas, véus, grinaldas e trajes nupciais, quepes militares, peças de cera (mãos, pés, braços, pernas, cabeças) aparelhos ortopédicos, peças de vestuário, quadros com cenas dramáticas de acidentes, etc.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Congadas em Catalão (GO) celebram Nossa Senhora do Rosário



Começaram na madrugada de sexta-feira (30) as Congadas de Catalão, a 261 km de Goiânia. Celebrada desde 1876, a festa é considerada a mais antiga manifestação em louvor a Nossa Senhora do Rosário no Brasil e este ano reúne mais de 4.500 dançadores de congo.

As homenagens surgiram com o escravo Chico Rei, que misturava crenças do catolicismo com ritos afros para agradecer as libertações de seus companheiros.Ao toque de três apitos, os generais iniciam as congadas, que este ano tem a participação de 23 ternos de congos. O dançador Reginaldo Nascimento define a festa como "tradição, fé, cultura e muita emoção”.




A congada é uma festa de origem negra. É anterior a libertação dos escravos e no município de Catalão acontece desde o ano de 1874. Os agentes desta são em grande parte negros. Nesta cidade a festa é realizada pelos componentes dos ternos de Congo, Moçambique, Catupés, Vilões, Penacho, Marinheiro e Marujeiro, como forma de homenagear, agradecer e prestar devoção a Nossa Senhora do Rosário. 

Cantam e dançam lembrando sua relação com a terra, ar e mesmo o mar o qual muitos não conhecem. Entretanto, sabem que seus antepassados foram capturados e trazidos para o Brasil presos em navios negreiros e aqui tiveram que lutar por suas vidas e para que seus descendentes não tivessem a mesmo destino que eles.
Da mesma forma os integrantes da congada sabem que são discriminados e vítimas de racismo e que têm um poderoso instrumento para lutar contra isto. Por ter a cidade toda voltada para si durante o período da festa, estes a utilizam também para que, por meio da festa e mais especificamente da música e da dança, alcancem um maior número de pessoas. 



Serão dez dias de festejos com missas, terços e a apresentação dos ternos coloridos, no encerramento que será realizado no dia 9 de outubro.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A festa de Nossa Senhora do Rosário e a Congada



A festa do Rosário de Nossa Senhora no Brasil está ligada a grupos negros que realizam os autos populares conhecidos pelos nomes de Congada, Congado ou Congos. Por essa vinculação aos negros, o Congado se tornou também uma festa de santos de cor, como São Benedito e Santa Efigênia.

Embora alguns autores atribuam a gênese do Congado a uma influência européia, ligando-a às lutas religiosas da Idade Média, a hipótese mais forte é que defende a origem afro-brasileira do culto. É importante lembrar que o processo de catequese, através de missionários dominicanos, levara Nossa Senhora do Rosário à África, impondo seu culto aos negros. O acréscimo dos elementos de coroação de reis, lutas e bailados guerreiros é a contribuição africana, numa rememoração das práticas da Terra-Mãe.

Mas o traço decisivo da criação do Congado ocorrerá no Brasil colonial, através do processo aculturativo: de um lado, o modelo religioso do branco, de outro, a recriação do negro.

Para os Arturos, a festa do Rosário é uma das fases mais importantes para a vida da comunidade, representando o movimento máximo da concretização do amor à Grande Mãe. Há dois grupos nitidamente distintos: as guardas de Congo e Moçambique. A caracterização das guardas pode ser feita através dos seguintes elementos: fundamentação mítica, função, vestuário, símbolos condutores, instrumentos distintos, tipo de movimento e de dança, linguagem dos cantos.

Pela fundamentação mítica, as guardas se formaram ainda na África, quando uma imagem de Nossa Senhora do Rosário apareceu no mar. O grupo do Congo se dirigiu para a areia e, tocando seus instrumentos, só conseguiu fazer com que a imagem se movesse uma vez: num movimento rápido, Nossa Senhora se encaminhou para a frente e parou. Então vieram os negros moçambiqueiros, batendo seus tambores recobertos com folhas de inhame, cantando para a Santa e pedindo-lhe que viesse para protegê-los.

A imagem veio se encaminhando, no movimento do vai-vem das ondas, lentamente, até chegar à praia. 

A função das guardas se define através da narrativa mítica: o Congo puxa todos os dançantes, em movimento rápido, abrindo caminho; o Moçambique é o responsável pela Senhora, representada pelos reis cujas coroas a guarda conduz. O próprio vestuário se prende à estrutura do mito. Quando os moçambiqueiros usam as cores de Nossa Senhora - o azul e o branco - e os congos se vestem de rosa e verde, significando o caminho, com galhos e flores, para a Senhora passar. Indo à frente, o congo anuncia a chegada dos filhos do Rosário, preparando a passagem.

Dada a origem africana do ritual, alguns elementos materiais funcionam como fetiches, centralizando o poder e a força sobrenatural. Investidos de magia, transformando-se em símbolos condutores. 

Capitão de Coroa - Guarda de Moçambique 

Assim, o bastão é o símbolo de comando do Moçambique, enquanto a espada e o tamboril conduzem o Congo. A interpretação da origem dos fetiches está ainda ligada à fundamentação mítica, onde o Congo, abridor de caminhos, se arma pela espada, enquanto conduz o tamboril, símbolo dos instrumentos que moveram a imagem santa; o Moçambique carrega o bastão, índice de poder, por ter conseguido o resgate da estátua. 

Ainda no movimento da dança se replica a força do mito: o Congo se desloca rapidamente, enquanto é mais lento o movimento dos "donos-de-coroa". A dança dos congos é saltitante, marcada pela ginga e pelo cruzamento de pernas e pés; a direção assumida é da horizontalidade, com deslocamentos laterais (movimento pendular). O movimento do Moçambique assume uma profundidade que se caracteriza pela tendência à penetração: é como se o corpo do dançante quisesse varar a terra, batendo e voltando. Um dos elementos mais importantes para a distinção do Congo e do Moçambique é a linguagem dos cantos. Como guarda mais antiga, os moçambiqueiros são os senhores da música secreta e mágica, cantando a memória de África e dos antepassados. Com a mesma força criativa com que fez seus tambores de inhame para tirar a Senhora das águas, o Moçambique recria o canto, com improvisações que podem durar longo tempo: abre-se a caixinha mágica do inconsciente coletivo e a memória mítica aflora.

A linguagem do Congo expressa a religiosidade e a vida mais recente do grupo, através dos cantos que lembram os problemas sociais com o poder público e a Igreja, a história de guardas visitantes e as brincadeiras ou bizarrias. A estrutura do canto é fixa, limitando-se às improvisações. 

Fontes bibliográficas: Núbia Pereira de Magalhães Gomes e Edimilson de Almeida Pereira. 
"Negras Raízes Mineiras: Os Arturos". Juiz de Fora: Editora da UFJF/MINC, 1998. 
Arturos: Olhos do Rosário". Belo Horizonte: Mazza Edições, 1990 (textos sobre fotografias de Marcelo Pereira).  

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Salvador


Erguida entre 1704 e 1796, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi levantada por escravos e tingiu de azul o coração do Centro Histórico. Herança dos tempos anteriores à abolição, os fundos da igreja possui um cemitério de escravos. Está localizada no Centro Histórico de Salvador, na ladeira do Pelourinho. 

A igreja foi uma obra da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho. É uma construção imponente, à qual se tem acesso por um pequeno adro gradeado, e possui um corpo central em dois pavimentos, coroado por um frontão de empenas em volutas, e ladeado por campanários cujo arremate é um coruchéu em bulbos superpostos. Ao rés-do-chão existem cinco portas, sendo que a central é mais ampla e emoldurada por um discreto frontispício, e acima delas, cinco janelas de delicado desenho.

O interior tem uma rica decoração em entalhes e azulejos pintados com cenas diversas. Os altares são em estilo neoclássico, e ostentam finas estátuas do século XVIII, de Nossa Senhora do Rosário, Santo Antônio de Cartegerona e São Benedito. Nos fundos da igreja existe um antigo cemitério de escravos. Preservando sua história ligada aos negros, a liturgia dos cultos faz uso de música inspirada nos terreiros de Candomblé. Nas datas comemorativas de Santa Bárbara e Iansã, a igreja é o ponto central dos festejos.