domingo, 22 de maio de 2011

A lavação das escadarias da Igreja do Rosário de São Benedito: origens


Foto da lavação em 2010 


A lavação das escadarias da Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito teve início em 2009, no dia 20 de novembro. A cerimônia foi organizada pelo Centro Cultural Humaitá e Festival Paranaense do Samba, abrindo as comemorações do Dia da Consciência Negra em Curitiba.

A Igreja do Rosário

A primeira igreja do Rosário foi construída em 1737 em estilo colonial pelos escravos e para os escravos. Essa era a terceira Igreja de Curitiba, depois da Matriz e da Igreja da Ordem. A mesma foi reconstruída em 1946 em estilo barroco no mesmo local da antiga, demolida em 1931. No local se encontra o túmulo de Monsenhor Celso, antigo pároco de Curitiba.

A lavagem do Bonfim e a origem da lavagem na Igreja do Rosário


A lavagem do Bonfim foi um rito que se iniciou com o propósito de limpar o espaço interno da igreja, garantindo a ela uma boa pintura, caiação das paredes, limpeza das imagens, etc. Era a preparação da igreja para os festejos de Janeiro. Este ato de limpeza é um costume português trazido pelas Irmandades, com o propósito de limpar a igreja antes dos festejos do Santo. Com o tempo, a limpeza começou a ser feita por pessoas afim de pagar promessas feitas ao Senhor do Bonfim.
 A capela do Senhor do Bonfim foi inaugurada em 1745. Originalmente, a lavagem era um ato singelo controlado pela igreja e era realizada por escravos. Aos poucos o ato da lavagem se popularizou e se transformou numa festa, mobilizando milhares de pessoas. O culto ao Senhor do Bonfim começa a assumir extraordinária importância em Salvador. Junto com esse culto, nasceu o culto a Oxalá, sincretizado com o Senhor do Bonfim. A homenagem a Oxalá era realizada às escondidas e fora da cidade, devido às perseguições por parte das autoridades. A união das duas cerimônias ocorreu depois da Guerra do Paraguai, em parte por gratidão aos negros e mestiços que participaram da guerra como Voluntários da Pátria. Ordep Serra (1995) diz que a tradição da lavagem ocorreu devido à promessa de um soldado que lutou na guerra. Esse tipo de promessa religiosa era comum na cultura luso-brasileira (MENDES, 2011).
A lavagem do Bonfim foi identificada ao culto de Oxalá através do sincretismo. Oxalá, no candomblé, é o orixá mais velho, da paz, da união entre os povos e foi sincretizado com Jesus Cristo. Além disso, Ordep Serra (1995) explica que o culto a Oxalá celebrado em Ifé tem como características a lavagem de seus objetos sagrados com água recolhida em potes num rio sagrado consagrado ao Orixá e essa água é levada ao templo, pelos fiéis, em procissão (MENDES, 2011).
A lavagem acontece na segunda quinta-feira depois do Dia de Reis, logo após a novena em louvor a Jesus Cristo e o preceito de Oxalá. 
Podemos entender a lavagem das escadarias como um lugar de comemoração e de memória. O ritual permite que lembranças de vivências diretas ou por tabela, lembranças de eventos passados oralmente de geração à geração, venham á tona. O festejo dedicado ao Senhor do Bonfim traz consigo as lembranças dos rituais a Oxalá. Mas o ritual e a comemoração estão ocorrendo em um outro tempo, respondendo a solicitações do presente. A África acaba por ser lembrada também, mesmo por aqueles que já fazem parte da segunda ou terceira geração de africanos. Mas a memória de uma África saudosista, de onde vieram os antepassados e os Orixás, torna-se um lugar importante e fomenta um sentimento de pertença e unidade (MENDES, 2011).
E seguindo essa idéia de resgate da memória negra, de sua religiosidade e cultura marcantes que a cerimônia da lavagem das escadarias ocorreu em Curitiba. A escolha da igreja foi devido ao seu valor no resgate da história do negro em Curitiba. E a homenagem aqui foi a Oxum, que no Candomblé é sincretizada com Nossa Senhora do Rosário. Oxum é o orixá das águas doces, da beleza e da riqueza.

Referências e sites consultados:

MENDES, E. N. P. A lavagem das escadarias do Nosso Senhor do Bonfim da Bahia: Identificação e memória no final dos oitocentos. Revista Brasileira de História das Religiões, Ano III, Nº IX, 2011.  
SERRA, O. Águas do rei. Petrópolis, RJ, Ed. Vozes, 1995.




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