Texto copiado integralmente do site: <Jornal Correio da Cidade>
33º
Festival de Congado foi realizado em Lafaiete, no domingo, dia 15.
Desfiles de bandas congas de Lafaiete e região fizeram suas
apresentações, em frente à Prefeitura. No encerramento, foi realizada
uma missa Conga. O evento contou com a presença dos reis e rainhas
congas. Presidentes das guardas receberam troféus e medalhas de
participação.
O festival conserva uma tradição de nossa região, mantida graças ao empenho de pessoas como Ganair Landislau dos Reis, 65 anos. Ele participa do Congado desde os 18 anos: “Vem dos meus avós, dos meus pais e tios. Sou capitão da banda Santa Efigênia, do bairro JK, e presidente da Irmandade de Congadeiros Nossa Senhora do Rosário. Atualmente, são 13 bandas na associação. A irmandade foi fundada em 1965, e busca resgatar a cultura”, relata. Outras apresentações estão programadas para 19 de agosto, na praça São Sebastião.
Mas não é só em Lafaiete que as bandas locais se apresentam. Anualmente, grupos lafaietenses levam sua arte a Aparecida do Norte, entre outras cidades: “O Congado significa muita coisa; a Nossa Senhora do Rosário foi encontrada no fundo do mar, e foi o Congado quem resgatou ela. A gente canta e dança a nossa fé”, destaca. A irmandade reúne-se todo primeiro sábado do mês, das 16 às 18h, em frente ao Hospital São Vicente.
Representando a “nova geração”, Carlos Eduardo de Souza Pereira, 22 anos, participa desde os 9 anos e é capitão de banda: “Entre no Congado porque vi uma apresentação e gostei. Entrei como dançante, depois fui tocar no centro e surgiu uma vaga de capitão. Participo da Banda de Congado Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, daqui de Lafaiete. O Congado significa muita coisa; ajuda a tirar muita gente do caminho ruim”, lembra.
Vicente Gama da Silva, 59 anos, também faz parte da Congada desde criança: “Eu já nasci na Congada; meu pai foi fundador. Sou da Banda Nossa Senhora do Rosário, de Carandaí. São 37 integrantes. O Congado para mim é como uma religião. A fé em Nossa Senhora do Rosário. Já tenho netos no Congado e espero que, quando eu morrer, meus filhos sigam com a tradição”, declara.
Entre as mulheres, Elizabete Oliveira Silva Gama, 26 anos, mostra que o Congado não faz distinções: “Tem 26 anos que estou no Congado; sou filha do Vicente Capitão. É uma cultura que não deveria acabar; é muito bom para a gente. Tenho dois filhos que já fazem parte; o Pedro Lucas, de 3 anos, e a Maria Júlia, de apenas 8 meses de vida. Se depender de mim, eles vão continuar com a tradição da família”, frisa.
Tradição secular
A Congada é um evento que faz parte do folclore brasileiro. Trata-se de um desfile ou procissão que reúne elementos das tradições tribais de Angola e do Congo, com influências ibéricas, no que se refere à religiosidade. Esse fenômeno cultural é conhecido como sincretismo religioso: entidades dos cultos africanos eram identificados aos santos do catolicismo. Assim, a Igreja, as autoridades e os senhores de engenho, de um modo geral, aceitavam ou prestigiavam a solenidade.
Animada por danças, cantos e música, a procissão acabava numa igreja (em geral, as de irmandades de negros, como Nossa Senhora do Rosário) onde, com a presença de uma corte e seus vassalos, acontecia a cerimônia de coroação do Rei Congo e da Rainha Ginga de Angola – uma personagem da história africana, a Rainha Njinga Nbandi, do século 17. Esses autos, contudo, não existiram no território africano.
As congadas atuais são originárias dessas coroações e ainda estão presentes em diversos estados de todo o Brasil, como Minas Gerais. Realizadas de maneiras diversas e mescladas a outras festas, elas basicamente são compostas de desfiles teatrais, ao som de vários ritmos: embaixadas, desafios, repentes e maracatús. Têm, como padroeiras, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia. Por isso, geralmente se apresentam nas festas desses santos ou ainda no mês de maio.
Em Minas, as festas acontecem no mês de outubro, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário. Seus participantes vestem-se de branco, com um saiote de fitas coloridas e o rosário de lágrimas a tiracolo, e dançam ao ritmo das caixas e dos chocalhos. Tanto em Minas como no Rio Grande do Sul, a Rainha Ginga desfila em procissão.
O Congado em Lafaiete
Localizada em uma rica e importante região histórica, Lafaiete foi passagem de ouro e recebeu expressivas influências religiosas. Ao mesmo tempo, tornou-se local de concentração de camadas populares pobres, nascidas na localidade ou vindas de cidades vizinhas menores.
Neste contexto, as bandas de Congado, que jamais desapareceram da região, começaram a se articular na periferia da cidade, existindo até hoje, apesar de todos os prejuízos socioculturais e sua degeneração folclórica. A força para a continuidade vem da participação efetiva de jovens e crianças, que recebem dos pais os ensinamentos necessários para a preservação da manifestação religiosa e cultural.
Um exemplo da resistência é a realização do Festival de Congado de Lafaiete. Desde 1979, na gestão do então prefeito Pedro Silva, o evento vem reunindo congadeiros de todo o estado, com uma programação variada.
São 11 grupos de Congado, atuando em Lafaiete, que, na tentativa de uma maior integração e difusão das tradições, criaram recentemente a "Irmandade de Congadeiros Nossa Senhora do Rosário".
De acordo com a tradição, o Congado sempre foi manifestação religiosa e cultural apresentada por uma variedade de cores, sons e movimentos. As músicas são simples, mas com um significado forte, sempre cantadas em louvor ao santo ou santa de devoção. Por isso a manifestação religiosa do Congado é chamada de a "Fé que canta e dança".